...a primogênita
de Tomé de Souza... –
antigo
epíteto de Salvador, citado por Thales de Azevedo.
I
Doida, fez de
chão a Sé
e dissipou
caixilhos
por bondes...
trilhos, que arrancou depois
e frondes.
Doida, doida,
o delírio agora é para cima: a vertigem
das torres! Ah,
as torres... E se enche
de
reflexos, muitos
de si mesma:
é tanta luz que
se embriaga, mil espelhos
mil janelas:
olhos vítreos, olhos cegos.
E faz alarde
e festeja
o fim de seu
passado:
“Euzinha, coisa
velha,
madeira de
demolição, mas se aproveita
numa porta ou
numa mesa, quanto charme!”
Pois foi sempre
assim, a Grande Doida
esta senhora
e se por um
tempo nos fez boa figura,
foi apenas
ilusão: o fastígio de seus bens (que sempre os teve muitos).
Quer mais é
esconder seus anos, ser Futura
como nunca o
poderá, se gaguejo impertinente
minha
praga-avessa, aqui vai ela:
TUA PRI-MO-GE-NI-TU-RA!
II
Volta pra casa,
maluca: ’cê tá é velha.
Perdi meus
pronomes, toda a compostura:
toma jeito de
velha, te compreende, te emenda.
Toma tento,
tenência,
óleo de rícino,
elixir.
Lembra do
Pirajá, que já pirou por ti; lembra
da roda de
enjeitados, ou do poeta-monge,
que ainda agora
foram (nem listo!).
Faz-se de
besta, te conserta,
ó tia doida,
vovozinha tresvairada,
minha bisa,
minha mãe avoenga,
mil mulheres de
olhos virados,
e mais a hiena
de Salpetrière.
Volta, sinhá
dona, volta!
Mas, quem é que
pode?
Meteu na cabeça
que é moça, viu demais novela,
acreditou.
III
(Num 29 de março qualquer)
No teu
aniversário, melhor fora te calar verdades?
Tenho é gosto
em te passar na cara:
és velha, e a mais velha −
a primeira a
nascer
e a primeira a
esquecer.
Doida,
desassuntada, ridícula...
(A Cidade atira na cabeça do poeta
uma lioz de Tomé de Souza.)
uma lioz de Tomé de Souza.)
DOIDA
DOIDA DOIDA!
Pois vou te
arreliar que nem moleque perdido
vou puxar tua
saia vou te pôr apelidos:
a Babilanga, a
Salvarelha, a Dona Moça,
a Brilhosa, a
Escondida, a Defendida,
a Fedida, a
Podre-doce, a Dondocuda,
mil vezes
doida...
Eu desvio, eu sempre desvio,
eu cato essa lioz e te
devolvo.
In: "Culpe o vento". Rio de Janeiro: 7Letras, 2014, p. 167-169.
In: "Culpe o vento". Rio de Janeiro: 7Letras, 2014, p. 167-169.
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